Considerações sobre o uso da cinta lombar na sua empresa
Quando indicar e 7 dicas para eliminar ou reduzir os riscos com o levantamento manual ou a movimentação de cargas
Segundo a nossa experiência e com base na observação do que acontece nas empresas que atendemos, 20% das causas que geram 80% dos problemas ergonômicos dentro das empresas, principalmente envolvendo movimentação manual de carga, tem relação direta ou indireta com queixas de problemas nas costas.
Seja por dor ou desconforto… As pessoas sofrem desse mal.
Para a empresa, fica a responsabilidade por um possível nexo causal – ter sido a causadora do problema – ou mesmo ter contribuído para o agravamento do problema – com causa.
Para o trabalhador resta trabalhar com dor ou colecionar atestados e entrar no ciclo interminável do INSS.
Uma das soluções que sempre vem à tona é a indicação do uso das cintas lombares.
Alguns médicos são a favor. Há profissionais que recomendam na Análise Ergonômica do Trabalho – AET, mas afinal, esse equipamento resolve?
No artigo de hoje, vamos falar sobre as principais características da cinta lombar, resenhar seus prós e contras, e prometemos não ficar em cima do muro.
Aspectos biomecânicos de cintas lombares*
Algumas pesquisas informais mostraram que os trabalhadores que fizeram uso da cinta, relataram se sentir mais fortes. Mas, a verdade é que não há comprovação científica e muito menos unanimidade por parte dos especialistas quanto a indicação ou reprovação deste equipamento.
Em 1992, Reddell apontou que 58% de 642 carregadores de bagagem pararam de utilizar as cintas após oito meses. E que o estudo não mostrou nenhuma redução nos índices de lesões lombares ou mesmo dos índices de dias de afastamento, pelo uso das cintas no carregamento das bagagens.
Outro estudo, feito por Mitchell em 1994, envolvendo 1316 trabalhadores de uma base da Força Aérea, mostrou que apesar das cintas parecerem ter reduzido em 6% a incidência de lesões lombares, o tempo perdido devido a lombalgia aumentou 240%, no grupo que utilizou as cintas.
Em contrapartida, um estudo feito por Kraus em 1996, ao longo de cinco anos, e envolvendo 36000 empregados do comércio em geral, teve como resultado a redução nas indenizações trabalhistas por lombalgia naqueles que utilizavam algum tipo de cinta. O fato é que demais ações como, treinamento e melhorias ergonômicas também faziam parte do pacote de ações e provavelmente contribuíram para esse resultado.
Eu não acredito em soluções milagrosas. Quando o trabalho é feito de forma abrangente e principalmente de forma participativa, envolvendo as pessoas, os resultados aparecem.
Possíveis vantagens, o que se espera com o uso da cinta:
1) Cintas lombares aumentam a rigidez do tronco e assim reduzem a exigência de forças musculares;
2) Cintas lombares aumentam a eficácia da pressão abdominal e aliviam as forças sobre as unidades de movimento dorsais;
3) Cintas lombares restringem a mobilidade do tronco e assim forçam o indivíduo a assumir uma “postura mais correta” durante o levantamento de cargas.
Os estudos científicos realizados em torno dos mecanismos hipotéticos citados acima não trazem nenhuma conclusão quanto à eficácia ou não do uso da cinta lombar.
Até que estudos de campo que incluam ambos os aspectos sejam realizados, não é certo que o uso das cintas como controle administrativo seja cientificamente justificado.
Mas afinal, você deve ou não, indicar o uso de cintas lombares?
Como eu disse não vamos ficar em cima do muro.
Não há comprovação da eficácia do uso da cinta lombar; não existe legislação que respalde o uso; os especialistas não são unânimes, pelo contrário, nas aulas e discussões com os colegas da Medicina do Trabalho, a maioria deles reprova o uso.
Eu acredito que na maior parte dos casos, as pessoas que defendem o uso, estão mais preocupadas em mostrar que estão fazendo alguma coisa, do que tentando, de fato, resolver o problema.
Sete recomendações para eliminar ou reduzir o risco envolvendo o levantamento manual e/ou a movimentação de cargas.
1. Elevar a distância vertical da carga em relação ao piso a 75 cm (uso de mesa pantográfica, transpaleteira com elevação de altura);
2. Padronizar o peso da carga em 15 kg (equivale a 70% do limite recomendável por NIOSH, que são 23 Kg ou manter no máximo o limite em 20 kg;
3. Orientar os operadores quanto as posturas corretas durante o levantamento de cargas: pegar o peso de frente, sem girar o tronco; manter a carga junto ao corpo; contrair o abdome durante o levantamento;
4. Facilitar a pega, melhorando sua qualidade: alças são mais indicadas; depois containers, caixas com abertura que permita o apoio dos dedos a 90 graus;
5. Limitar a frequência de levantamentos por minuto. O ideal é um levantamento a cada cinco minutos;
6. Limitar a duração das atividades durante a jornada de trabalho. O ideal é trabalhar nessas tarefas menos do que uma hora por dia, ou de uma a duas horas; rodízio e pausas são indicados;
7. Disponibilizar equipamentos como: carrinhos manuais, pórticos, talhas, ponte rolante, sistema a vácuo etc. Na movimentação manual de carrinhos o ideal é que a manopla esteja a 95 cm do piso; a distância de movimentação não deve ultrapassar 60 metros, o ideal, porém, são dois metros;
Gerar conteúdo e informação para melhores decisões, essa é nossa missão, e a sua?
Omar Alexandre é Diretor Técnico na Ergotríade, Eng. Produção, Fisioterapeuta do Trabalho, Téc. Segurança, Prof. de Ergonomia em cursos de pós graduação e Mestrando em Ergonomia pela Unicamp.
*Fonte: Os resultados dos estudos, números e índices, foram extraídos do livro Biomecânica Ocupacional de Chaffin, Gunnar e Bernard.